segunda-feira, 3 de novembro de 2008

- O Passado de Claudinha - Livro

Axé Music – O verso e o reverso da música que conquistou o planeta
Ricardo Azevedo
Capítulo II: Reverso

Dizem que a palavra forró teve origem da expressão em inglês “for all”, ou seja, “para todos”. Nadando em dinheiro, as produtoras de Axé-music também acreditaram nisso e começaram, em 1998, a investir nesse mercado dominado por cearenses, pernambucanos e paraibanos que começava a ganhar o sudeste do país.
Achamos uma boa cantora, a mineira Karina, e juntamos alguns músicos da banda “Papa Léguas” (que era produzida por Rangel – dono da gravadora WR) para as primeiras apresentações. Nesta época, editava uma revista com a amiga Olívia Libório para o público adolescente de Salvador a Folheteen, e usava a música como elemento de divulgação, principalmente promovendo mostras de som nos colégios particulares dando como prêmio a gravação de um disco demo na WR. Peregrinava todos os dias pelas escolas, ora com diretores, ora com grêmios estudantis. Onde não tinha grêmio, incentivava a criação de um. Assim, fundamos ou recriamos mais de 10 pelos colégios de Salvador. Mesmo com este trabalho, não consegui ganhar dinheiro na revista, e tive que me contentar com um discurso de homenagem na Câmara dos Vereadores, feito pelo amigo Emmerson José, cuja carta de registro guardo até hoje como lembrança do negócio, assim como os primeiros exemplares.

Um dia visitando o colégio Módulo na companhia de outra amiga, a jornalista Liliane Reis, que estava em busca de matéria para o jornal Correio da Bahia, encontrei uma garota bem novinha, aparentava uns 15 anos, sentada num banco tocando “Estoy aqui”, da colombiana Shakira, no violão. Aquilo para mim foi um show.
Mais tarde, pensei na idéia de trazê-la para a “Violeta”. Fui até lá, procurei saber qual sua turma e fui falar com ela.
- Você está a fim de cantar numa banda profissional?
- Claro! Mas, tenho que falar com meu pai.
- Então vamos marcar lá na WR para ele ver que o negócio é sério.
Assim fizemos. Reunimo-nos dentro de um estúdio, explicamos todo o negócio, nossos planos e a confiança no trabalho dela. O pai e a mãe concordaram e tínhamos, a partir daquele momento, mais uma cantora: Claudia Leite. Nos primeiros ensaios, a banda criticava nossa escolha. Acreditavam que era apenas um rosto bonito. Além disso, ela brincava muito e estava longe do profissionalismo de Karina. Mas, aos poucos, todos foram acreditando que ela era um bom negócio, dando-a cada vez mais destaque.
Antes de cada apresentação, tínhamos que correr para buscar uma autorização de seu pai para poder viajar e subir ao palco. E, assim como as demais produtoras baianas, estávamos entusiasmados com o forró.
E para abrir seus shows no interior, acertamos entregar a “Violeta” para também ser agenciada por eles. Fizemos alguns shows juntos, mas não conseguimos nenhuma projeção.
Até que conseguimos um espaço mais apropriado para a banda, abrindo o show de Leandro e Leonardo em Alagoinhas. Mas, Leandro já estava doente e o irmão seguia sozinho em turnê, mesmo assim fazendo sucesso. Viajamos pela manhã e, de noite, soubemos que o evento estava cancelado por causa da saúde de Leandro piorar. Voltamos para Salvador e fizemos um show arrasador no Arraia da Capitã, evento junino tradicional de Salvador e que era promovido em parceria entre a TV Bahia e o jornal A Tarde.
Naquele dia, tive a certeza que, se Claudinha não havia chegado à maturidade como artista, estava bem próximo disso.
Mas, o destino da “Violeta” estava nas mãos de Ganem e Cristóvão. Longe de nosso controle, a banda perdeu sua grande estrela, Claudinha, e depois disso, desligou de vez seus microfones. Saímos do mercado do forró, assim como a maioria das outras produtoras que queriam voltar seu foco para a Axé-music.
Dessa história, ficou apenas a satisfação de presenciar o nascimento de uma das maiores estrelas da música baiana.”
No mercado fonográfico, Ivete Sangalo e Babado Novo estiveram, em 2005, no ranking das 10 maiores vendedoras de discos do Brasil...”